LIÇÃO 09 – UM LUGAR DE ADORAÇÃO A DEUS NO DESERTO / SLIDES DA LIÇÃO
LIÇÃO 09 – UM LUGAR DE ADORAÇÃO A DEUS NO DESERTO
TEXTO ÁUREO
"E me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êx 25.8).
VERDADE PRÁTICA
Deus deseja habitar entre nós, para que Ele seja o nosso Deus e para que nós sejamos o seu povo.
Deus queria habitar no meio de Israel. Por isso, ordenou a Moisés que, juntamente com o todo o povo, construísse um lugar separado para adoração. Trata-se do "Tabernáculo do Senhor", um santuário móvel que acompanhou os hebreus durante sua longa peregrinação pelo deserto. Na lição de hoje, estudaremos como ocorreu a construção desse lugar santo de adoração ao Senhor.
1. O propósito divino. Depois da entrega da lei, Deus ordenou que o seu povo edificasse um lugar de adoração. O objetivo divino era aumentar e fortalecer os laços de comunhão com o seu povo Israel, que Ele libertara do poder de Faraó no Egito. O Senhor assim age para que o homem o conheça de forma pessoal e íntima (Jo 14.21,23) “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele. Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada”.
2. As ofertas. O Tabernáculo seria construído pelo povo de Deus, com os recursos que receberam pela providência divina ao saírem do Egito (Êx 3.21,22) “E eu darei graça a esse povo aos olhos dos egípcios; e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda vasos de prata, e vasos de ouro, e vestes, os quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis ao Egito.” (Êx 12.35,36) “Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés e pediram aos egípcios vasos de prata, e vasos de ouro, e vestes. E o SENHOR deu graça ao povo em os olhos dos egípcios, e estes emprestavam-lhes, e eles despojavam os egípcios”. Para a construção do Tabernáculo os israelitas ofertaram voluntariamente e com alegria. A Palavra de Deus nos ensina que o fator motivante para a contribuição do crente é a alegria: "porque Deus ama ao que dá com alegria" (2 Co 9.7). O Senhor não se agrada de quem entrega a sua oferta e dízimo contrariado ou por obrigação (Ml 3.10) “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança”. De nada adianta contribuir com relutância e amargura.
3. Tudo segundo a ordenança divina (Êx 25.8,9,40). O Tabernáculo não foi uma invenção humana. Podemos ver que a partir de Êxodo 25, o próprio Deus instrui a Moisés quanto à planta e os objetos do templo móvel. Moisés obedeceu a todas as instruções, pois todo o Tabernáculo apontava para o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. Simbolizava o plano perfeito de Deus para a redenção da humanidade (Hb 9.8-11) “dando nisso a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do Santuário não estava descoberto, enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço, consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação,”.
1. O pátio. "Farás também o pátio do Tabernáculo" (Êx 27.9). Os israelitas precisavam aprender a forma correta de se chegar à presença de Deus e adorá-lo. O pátio tinha o formato retangular, e indicava que, na adoração a Deus, deve haver separação, santidade. Havia uma única porta de entrada, que apontava para um único caminho, uma única direção. Isso prefigura Jesus Cristo, que disse: "Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á" (Jo 10.9). Jesus é o caminho que nos conduz a Deus (Jo 14.6) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”.
2. O altar dos holocaustos. "Farás também o altar de madeira de cetim" (Êx 27.1). Ao entrar no pátio, o israelita tinha a sua frente o altar do holocausto. Era uma caixa de madeira de cetim coberta de bronze. Junto a esse altar o transgressor da lei encontrava-se com o sacerdote para oferecer sacrifícios a Deus a fim de expiar seus pecados e obter o perdão. O altar dos holocaustos tipificava Cristo, o nosso sacrifício perfeito que morreu em nosso lugar (Ef 5.2) “e andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Gl 2.20) “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim”. Sem um sacrifício expiador do pecado não há perdão de Deus (Lv 6.7) “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (2 Co 5.21) “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. A epístola aos Hebreus nos mostra que o sacrifício salvífico de Cristo foi único, perfeito e completo para a nossa salvação (Hb 7.25) “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 10.12) “mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus”.
3. A pia de bronze (Êx 30.17-21). Na pia os sacerdotes lavavam suas mãos e pés antes de executarem seus deveres sacerdotais. Mãos limpas: trabalho honesto; pés limpos: um viver e um agir íntegros (Ef 5.26,27) “para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Hb 10.22) “cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa”. Precisamos nos achegar a Deus com um coração puro e limpo. Deus é santo e requer santidade do seu povo. Deus não aprova o viver e o servir do impuro. O servo de Deus deve ser "limpo de mãos e puro de coração" (Sl 24.4). Hoje somos lavados e purificados pelo precioso sangue de Cristo que foi derramado por nós (1 Jo 1.7) “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
1. O castiçal de ouro (Êx 25.31-40). Não havia janelas no Lugar Santo e a iluminação vinha de um castiçal de ouro puro e batido. Esta peça também apontava para Jesus Cristo, luz do mundo, e a quem seguindo, não andaremos em trevas, mas teremos a luz da vida (Jo 8.12) “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”. O castiçal, em Apocalipse, simboliza a Igreja (Ap 1.12,13,20) “E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro. O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas”. As lâmpadas do castiçal ardiam continuamente e eram abastecidas diariamente de azeite puro de oliveira (Êx 27.20,21) “Tu, pois, ordenarás aos filhos de Israel que te tragam azeite puro de oliveiras, batido, para o candeeiro, para fazer arder as lâmpadas continuamente. Na tenda da congregação fora do véu, que está diante do Testemunho, Arão e seus filhos as porão em ordem, desde a tarde até pela manhã, perante o SENHOR; um estatuto perpétuo será este, pelas suas gerações, aos filhos de Israel” a fim de que iluminassem todo o Lugar Santo. O azeite é um símbolo do Espírito Santo. Se quisermos emanar a luz de Cristo para este mundo que se encontra em trevas, precisamos ser cheios, constantemente, do Espírito Santo de Deus. "Enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18) é a recomendação bíblica.
2. Os pães da proposição e o altar do incenso (Êx 25.30). Havia uma mesa com doze pães e, todos os sábados, esses eram trocados. Estes pães apontavam para Jesus, o Pão da vida (Jo 6.35) “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede”. Precisamos nos alimentar diariamente de Cristo, e não apenas no domingo. Tem você se alimentado diariamente na mesa do Senhor Jesus? Além dos pães, próximo ao Santo dos Santos ficava o altar do incenso, um lugar destinado à oração e ao louvor a Deus. Precisamos nos achegar ao Senhor diariamente com a nossa adoração e nossas orações: "Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e seja o levantar das minhas mãos como o sacrifício da tarde" (Sl 141.2).
3. O Santo dos Santos e a arca da aliança (Êx 25.10-22). O Santo dos Santos era um local restrito, onde somente o sumo sacerdote poderia entrar uma única vez ao ano. A arca da aliança era a única peça deste compartimento sagrado. Era uma caixa de madeira forrada de ouro. Durante a peregrinação pelo deserto os sacerdotes carregavam-na sobre os ombros. A arca simbolizava a presença de Deus no meio do seu povo. Erroneamente os israelitas a utilizaram como uma espécie de amuleto.
Em Hebreus 10.19,20, “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” vemos a gloriosa revelação profética entre o Santo dos Santos, o Senhor Jesus e o povo salvo da atualidade. O termo "santuário", no versículo 19, é literalmente, no original, "santo dos santos".
Os israelitas, mediante o Tabernáculo, podiam aprender corretamente como achegar-se a Deus, adorá-lo, serví-lo e viver para Ele em santidade. Assim deve fazer a igreja, conforme Hebreus 10.21-23 “e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu”. O Senhor é Santo e sem santidade nosso louvor e adoração não poderão agradá-lo.
Lição 8 - O Legado de Elias
ELIAS PREPARA O SEU SUCESSOR
O escritor norte-americano A.W. Tozer disse certa vez que nada morre de Deus quando um homem de Deus morre! Essa máxima é verdadeira em relação ao profeta Elias e ao seu sucessor, Eliseu. Elias exerceu um ministério excepcional no Reino do Norte e sem dúvida foi o responsável por ajudar o povo de Deus a manter a sua identidade. Todavia, assim como todos os homens, chegou o dia em que precisou parar. Elias teve o cuidado de seguir a orientação divina na escolha do seu sucessor bem como em prepará-lo da forma correta. Neste capítulo veremos como se deu esse processo e como podemos aprender com ele (1 Rs 19.15-21).
A história da sucessão do profeta Elias e o chamamento do profeta Eliseu nos ensina uma verdade muitas vezes esquecida: não somos insubstituíveis, embora não sejamos descartáveis. Talvez a atual crise na liderança evangélica reside no fato da ausência de líderes substitutos. No livro de minha autoria, intitulado: Rastros de Fogo, escrevi sobre a realidade dessa crise, tomando por base o período dos juízes.
Ali observei que a crise ministerial contemporânea assemelha-se àquela vivida pela escassez sacerdotal naquele período. Como um período de transição entre um governo tribal e a monarquia, os juízes tiveram de conviver com as ameaças constantes de uma anarquia generalizada. O texto bíblico em Juízes 17.1-13 relata o ápice dessa crise. Nele podemos extrair lições que servem para mostrar que uma crise institucional pode ter sérios reflexos no ministério vocacional.
Em primeiro lugar havia uma crise de modelos — “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” (v.6).
Por natureza somos dependentes de modelos. Na nossa infância eram nossos pais, professores ou até mesmo um amigo. Os modelos são necessários e não há nada de errado em tê-los (1 Co 11.1)! O termo “modelo” traduz a palavra grega paradigma, e mantém o sentido em nossa língua de um referencial. Sem referenciais ficamos à deriva assim como os israelitas beiravam o caos por falta dos mesmos. Quando um povo não possui um modelo ou paradigma para seguir então ele corre perigo. Foi assim com os israelitas no período dos juízes e parece ser assim na igreja atual!
Em segundo lugar havia uma crise no ministério sacerdotal — “Havia um homem da região montanhosa de Efraim cujo nome era Mica (...) consagrou a um dos seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote” (v.l, 5).
Aqui não havia nenhum respeito pelo ministério vocacional e o que determinava o exercício do sacerdócio não era a vocação, mas a ocasião. Mica adorava a Deus e aos deuses (v.5) e ele mesmo consagrou um de seus filhos para lhe oficiar como sacerdote! Possuía um sacerdote particular.
R. N. Champlim observa que essa passagem mostra que:
“Ocorreram desvios idólatras que violavam o segundo mandamento da lei de Moisés (cf Jz 8.27; Mq 1.7; 1 Rs 12—13). Yahweh estava sendo cultuado, mas com o acompanhamento de ídolos e através de um sacerdócio não autorizado. Era uma situação própria do sincretismo, que de modo algum se harmonizava com a legislação mosaica”.1
Quando o assunto é vocação pastoral, devemos observar o binômio: vocação-qualificação. Há o perigo de termos um ministro vocacionado, mas não qualificado; como podemos tê-lo qualificado, mas não vocacionado. Somente um ministro vocacionado e qualificado pode exercer a contento e com êxito o ministério pastoral. No caso do filho de Mica ele poderia até mesmo ser qualificado, mas não era vocacionado pela simples razão de não pertencer à tribo de Levi — Mica era de Efraim! (v.l). Mica pareceu ficar incomodado com esse fato, pois posteriormente consagrou uma outra pessoa, agora da tribo de Levi, para lhe oficiar como sacerdote (Jz 17.12). Mas o problema não se resolveu, pois se primeiramente temos alguém que poderia ser qualificado, mas não era vocacionado, agora temos alguém que é vocacionado, pois pertence à tribo de Levi, mas demonstra ser desqualificado — era um andarilho e que ficava onde melhor lhe parecesse (v.8). Essa não era uma atribuição de um sacerdote levita (,Ex 28 — 29).
Em terceiro lugar havia uma crise de propósitos — “Sou levita de Belém de Judá e vou ficar onde melhor me parecer” (Jz 17.9).
Era um sacerdote sem propósitos. O ministério sacerdotal para ele era um meio e não um fim! Não possuía propósito algum em ser um sacerdote! Apareceu a oportunidade e ele oportunamente abraçou. Há sites que oferecem, e em várias parcelas sem juros, o título de pastor. Basta pagar e pronto: é pastor! Isso se parece muito com essas reportagens que a TV faz sobre a venda da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Vemos pessoas que jamais fizeram prova de legislação e muito menos de percurso receber a habilitação para dirigir. São verdadeiras armas que se movem no trânsito! Qual a diferença disso para o ministério pastoral? Apenas esta: enquanto um usa o carro como arma para matar, o outro usa a Bíblia! Cometerão crimes da mesma forma!
Em quarto lugar havia uma crise ético-moral (ver 10—12; 18.4,18,19,20)
Essa crise se manifestava de três maneiras:
a) Em um ministério legal, mas não moral — Nem tudo o que é legal é moral! Uma coisa pode ser amparada por um costume ou lei, isto é, ter respaldo legal ou jurídico, mas mesmo assim não se enquadrar no padrão estabelecido pelas Escrituras Sagradas! O divórcio, por exemplo, é amplamente amparado pela legislação e é aceito pela sociedade como uma prática normal. Todavia encontramos um sério conflito entre aquilo que preceitua a Bíblia e o que diz a legislação (Mt 5.31,32; Mt 19.1-12). Há pastores de renome que afirmam que qualidade de liderança nada tem a ver com divórcio, enquanto outros simplesmente ignoram o que diz a Escritura para se ajustar ao modelo adotado pela sociedade secular. É evidente que devemos levar em conta as exceções preceituadas na Palavra de Deus, todavia jamais fazendo da exceção uma regra (1 Co 7.15).
b) Em um ministério sacerdotal controlado pelas leis de mercado —A razão do levita oficiar como sacerdote é dada por ele mesmo: “Assim e assim me fez Mica; pois me assalariou, e eu lhe sirvo de sacerdote” (Jz 18.4). O pastor que quer ser um ministro de Deus jamais deve condicionar o seu ministério à lei da oferta e da procura. As vezes, determinadas ofertas são financeiramente tentadoras, mas não são acompanhadas pela aprovação divina.
c) Em um ministério determinado pela posição e não pela unção —“Entrando eles, pois, na casa de Mica e tomando a imagem de escultura, a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de fundição, disse-lhes o sacerdote: Que estais fazendo? Eles lhe disseram: Cala-te, e põe a mão na boca, e vem conosco, e sê-nos por pai e sacerdote. Ser-te-á melhor seres sacerdote da casa de um só homem do que seres sacerdote de uma tribo e de uma família em Israel? Então, se alegrou o coração do sacerdote, tomou a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de escultura e entrou no meio do povo” (Jz 18.19,20).
O texto diz que o Levita se alegrou porque seria sacerdote de uma tribo inteira e não de uma casa apenas! Visivelmente possuía um ministério condicionado pela posição em vez de fundamentá-lo na unção. Nosso sistema de governo episcopal possui suas vantagens, porém tem suas desvantagens. Uma delas está no perigo de se viver em função do título! Esses títulos dão grandes honrarias para quem os possui e por isso essas posições, que são biblicamente apenas funções, são, às vezes, disputadas a tapas! Quando um obreiro dirige seu ministério com essa atitude, assemelha-se àquele homem que fez um esforço enorme para colocar sua escada em uma parede muito alta. Quando chegou em seu topo descobriu com enorme tristeza que havia posto a escada na parede errada!2
Elias no Monte Sinai — a revelação da sucessão
Uma volta às origens
Voltando à história de Elias, observamos que ele fez um longo percurso até chegar ao monte Horebe, também conhecido na literatura bíblica como monte Sinai (Ex 3.1; Êx 19.1). O percurso era de aproximadamente seiscentos quilômetros. Foi nesse monte que o Senhor havia se revelado a Moisés muito tempo antes como o grande EU SOU (Ex 3.1). Posteriormente foi nesse mesmo monte que o Senhor revelou a Lei a Moisés (Êx 19.1-25; 20.1-26). A distância era grande, mas Elias necessitava voltar às origens da sua fé! Sem dúvidas esses fatos estavam na mente de Elias quando ele para ali se dirigiu. Para reorientar a caminhada, nada melhor do que uma volta às origens!
O expositor bíblico Musa Gotom (2010, pp.440,441) destaca o fato que “o Senhor não havia dito para Elias voltar ao monte Sinai, de modo que lhe perguntou: Que fazes aqui, Elias? (19,9). Deus fez essa pergunta ao profeta para lembrá-lo de que ele poderia ter buscado ao Senhor em qualquer parte de Israel. Se o Senhor ouviu às suas orações e respondeu a elas no monte Carmelo, podia ouvi-las em qualquer lugar. Elias desejava buscar ao Senhor da aliança no lugar onde ele se encontrara com Moisés e Israel. O Senhor de Israel, porém, não é um Deus local, mais acessível no Sinai do que em qualquer outro lugar.”3
Uma revelação impactante!
Vendo que Elias havia se enclausurado em uma caverna, o próprio Senhor trata de provocar um diálogo com o profeta. É nesse diálogo que percebemos que Elias estava vendo as coisas de forma distorcida. Charles Swindoll destaca que “Elias tinha uma visão tão deturpada da situação que não considerou a origem de sua ameaça. Pense nisso. A ameaça não viera de Deus: fora feita por um ser humano carnal e ímpio que vivia uma vida sem Deus e distante de suas coisas. Se Elias estivesse pensando de maneira realista e clara teria percebido isso. Sua boa avaliação do momento, assim como sua fé, teriam produzido o seguinte tipo de conversa consigo mesmo: “Ei, é Deus quem está no controle dessa situação, não Jezabel. Não dê a mínima para suas ameaças. Confie em Deus, do jeito que você tem feito todos esses anos!" 4
Duas coisas ficam patentes: Deus continuava sendo Senhor da história e Elias não havia trabalhado em vão (1 Rs 19.9-14). O Senhor revela ao profeta a existência de sete mil remanescentes da adoração verdadeira (1 Rs 19.18). Quem eram? Ninguém sabe, mas com certeza pessoas do povo que nem mesmo eram vistas, mas que amavam ao Senhor. Foi o próprio Deus quem os havia conservado. Mas a revelação continuou: Deus revelou a Elias a necessidade de um sucessor (1 Rs 19.16). A propósito, Charles Swindoll destaca que “graças ao modo gentil e bondoso de Deus, Elias arrastou-se para fora da caverna. “Partiu, pois, Elias dali”. De maneira graciosa Deus o alimentara e dera descanso, refrigério e sábios conselhos, fazendo que Elias se sentisse novamente parte significativa de seu plano. Isso é que é compaixão!
Então Deus permitiu que Elias passasse seu manto para Eliseu, seu sucessor. Mas fez mais do que isso, muito mais, pois Eliseu “se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia”. Deus não deu a Elias apenas um sucessor: deu também um amigo próximo, pessoal, alguém que amava Elias e o compreendia suficientemente bem para servi-lo e encorajá-lo.5
Elias na casa de Eliseu — a seleção da sucessão
A exclusividade da chamada
O texto de 1 Reis 19.19-21, tratando sobre a vocação de Eliseu é rico em detalhes sobre a sua chamada. Alguns deles se sobressaem nesse relato. Primeiramente observamos que Deus chama pessoas fiéis. Sem dúvida, Eliseu fazia parte da estatística divina dos sete mil. Em segundo lugar, Deus chama para o seu serviço pessoas que são ocupadas. Ele estava trabalhando com doze juntas de bois! A obra de Deus não é profissão nem tampouco emprego. E vocação. Em terceiro lugar, Eliseu percebeu que o ministério tem custo! Ele sacrificou os bois e deu como comida ao povo. Quem põe a sua mão no arado não pode olhar para trás. Em quarto lugar, Eliseu entendeu que o ministério profético é um “servir”. Eliseu passou a servir a Elias. Rayond B. Dillard destaca que “o chamado de Deus para todos nós é a sinceridade ao comprometimento. Para alguns, isso significa deixar um negócio ou emprego para seguir uma vocação profissional no ministério. Para outros, significa servir dedicadamente em muitos diferentes empreendimentos. Seja qual for o nosso trabalho, quer no ministério ou num emprego, o chamado de Deus para o serviço e compromisso deve eclipsar todos os outros.”6
A autoridade da chamada
Quando Elias encontrou Eliseu, o texto sagrado registra: “E lançou o seu manto sobre ele” (1 Rs 19.9). Na cultura bíblica o manto mantém um símbolo da autoridade profética (2 Rs 1.8; Zc 13.4; Mt 3.4). Lançá-lo, portanto, sobre outrem demonstrava poder e autoridade. Com esse gesto Eliseu estava sendo credenciado para o ofício profético. Raymond Dillard destaca que “uma maneira na qual os escritores do Antigo Testamento descrevem a possessão pelo Espírito de Deus é dizer que o Espírito “revestia” um profeta. [Obs: Isso no original em hebraico; nas diversas versões, às vezes foram usadas outras palavras, como vemos a seguir — N.R.] (1 Cr 12.18-19 [“entrou”]; 2 Cr 24.20 [“se apoderou”]; Jz 6.34). Esse é o pano de fundo para o simbolismo envolvido quando Elias lançou o seu manto sobre Eliseu (1 Rs 19.19). Eliseu, como Elias, seria revestido com o Espírito de Deus, e introduzido na ordem dos profetas. Mais tarde, quando Elias foi levado para o céu, Eliseu apanhou o manto de Elias e dividiu as águas do rio Jordão e, então, o grupo de profetas que testemunhou essa ação, soube que “o espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (2 Rs 2.13-15).”7 De nada adianta, portanto, o ofício se a unção não o acompanha! Não é, portanto, o ofício que determina a unção, mas a unção que valida o ofício! Eliseu de fato recebeu autoridade divina, pois possuiu um ministério marcado por milagres. Hoje há muita titulação, mas pouca unção!
Elias e o discipulado de Eliseu — a lapidação do sucessor
As virtudes de Eliseu
O relato de 2 Reis 2.1-8 mostra algumas fases do discipulado de Eliseu. Elias vai a vários lugares diferentes e em cada um deles se observa que o profeta põe o discípulo à prova. Primeiramente Eliseu demonstrou estar familiarizado com aquilo que o Senhor estava prestes a fazer (2 Rs 2.1). Ele estava consciente de que algo extraordinário envolvendo o profeta Elias aconteceria a qualquer momento (2 Rs 2.3) e que ele também fazia parte dessa história. Em segundo lugar, Eliseu demonstrou perseverança quando se recusou a largar Elias. Ele o acompanhou em Gilgal, Betei, Jerico e Jordão (2 Rs 2.1-6). Tivesse ele ficado pelo caminho não teria sido o homem de Deus que foi! Somente os perseverantes conseguem chegar ao fim. Em terceiro lugar, Eliseu provou ser um homem vigilante quando “viu” Elias sendo assunto aos céus! (2 Rs 2.12).
A história da chamada de Eliseu e como se deu o seu discipulado deveria servir de padrão para os ministros hodiernos! Infelizmente a qualidade dos ministros evangélicos da atualidade tem caído muito e a fragmentação das Convenções e Concílios tem uma boa parcela de contribuição nesse processo. Geralmente o processo acontece pela disputa de domínio de determinado espaço ou território entre as lideranças, que não chegando a um consenso sobre as suas esferas de atuação, resolvem dividir de forma litigiosa determinado campo pastoral. Feito isso, a parte menor passa a consagrar ministros para que uma nova Convenção ou Concílio seja formado. E exatamente aí que as qualificações exigidas para a apresentação de um Ministro da Palavra costumam ser esquecidas. O alvo agora não é mais a qualidade, mas a quantidade, visto que se procura quorum para a nova Convenção formada! Já vi e ouvi por esse Brasil afora de Convenções consagrando ao ministério: sodomitas, pedófilos, estelionatários, etc, etc., para oficiarem como ministros do Senhor! A consequência de tudo isso é refletida nas igrejas, que passam a atuar simplesmente como meros clubes sociais e não como o verdadeiro Corpo de Cristo.
A nobreza de um pedido
O pedido que Eliseu fez ao profeta Elias antes deste ser assunto aos céus é algo que merece uma reflexão à parte. Na verdade esse pedido de Eliseu revela a nobreza da sua chamada. Diante de uma oportunidade única, Eliseu não teve dúvidas: pediu a porção dobrada do espírito de Elias (2 Rs 2.9). Eli-seu tomou conhecimento daquilo que seu mestre fazia, e em outras ocasiões ele mesmo fora testemunha desses milagres. Ele não tinha dúvidas, queria aquilo para ele, só que em uma proporção bem maior. Deus se agradou do pedido de Eliseu como se agradara do pedido de Salomão (1 Rs 3.10).
Em o Novo Testamento encontramos o apóstolo Paulo dizendo: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1 Tm
3.1). Desejar ser um ministro da Palavra é um dos desejos mais nobres! Todavia contrastando aquilo que diz a Escritura com a prática ministerial hodierna, constatamos algumas anomalias. Como essa divulgada por Bill McCartney, diretor de um grande ministério para homens. Em uma pesquisa feita entre pastores americanos ele descobriu dados assustadores:
80% creem que o exercício do ministério tem empobrecido sua vida familiar; 33% creem que a igreja é responsável pelos desastres familiares em suas famílias; 50% sentem-se incapazes para o exercício ministerial; 90% rejeitam o treinamento que receberam, acham que os seminários são inadequados para a tarefa de treinar pastores; 70% têm uma autoestima mais baixa hoje do que quando começaram o ministério; 37% estiveram ou estão envolvidos em uma aventura sexual ilícita com membros de sua igreja; 70% disseram que não tem um só amigo; 40% pensam seriamente em desistir do ministério.8
Esses dados revelam que muitos obreiros não possuem a cosmo-visão bíblica do ministério pastoral, mas o veem como uma camisa de força que os oprime. Evidentemente que não é isso que a Bíblia mostra sobre a prática do episcopado. Necessitamos urgentemente voltar para o ensino bíblico sobre a verdadeira função ministerial e como ela enriquece a nossa vida e não o contrário.
O legado de Elias
Espiritual
Elias saiu de cena, mas deixou para seu discípulo um grande legado. Elias não era um homem rico, portanto, não deixou bens materiais. Mas Elias foi um gigante espiritual e como tal deixou para Eliseu essa herança. Elias foi um homem zeloso e foi esse zelo que o fez ir até as últimas consequências na sua defesa da adoração verdadeira (1 Rs 18.1-36). Elias também foi um homem extremamente ousado. Isso é facilmente percebido quando ele enfrenta o rei Acabe e prediz a grande seca sobre Israel (1 Rs 17.1). Por outro lado, Elias foi um homem de grande fé. Somente um homem com a confiança e fé que Elias demonstrou ter, poderia ser capaz de protagonizar os fatos narrados nos livros de Reis (1 Rs 17.8-23; 18.41-46).
Eliseu viveu nesse contexto, foi influenciado por ele e teve esse legado como herança.
Moral
Elias não foi um homem apenas de grandes virtudes espirituais, mas também portador de virtudes morais. E perceptível no relato bíblico que Elias possuía fortes valores morais. Elias denuncia os profetas que comiam da mesa de Jezabel (1 Rs 18.19). Como pode alguém comprado possuir autoridade para profetizar? A percepção do que era certo ou errado, do que era justo ou injusto também eram bem patentes na vida do profeta de Tisbe. Esses valores morais se tomam evidentes quando ele demonstra grande indignação diante da ação do rei Acabe. Acabe assassina Nabote para ficar com a vinha deste (1 Rs 21.17-20). Para Elias, Acabe havia se vendido para fazer o mal.
Acerca dos valores fundamentais, o filósofo Battista Mondin destaca que eles são:
“Os guias que o ajudam (o homem) a realizar o próprio projeto de humanidade. Eis, portanto, o critério para estabelecer a hierarquia de valores: ele é constituído pela contribuição que uma coisa, uma pessoa, uma ação pode dar para a realização do projeto-homem e do valor-homem. Uma realidade ocupa um degrau tanto mais elevado na hierarquia dos valores quanto maior é a sua contribuição nesse sentido e tanto mais baixo é menor sua contribuição. De fato, as hierarquias de valores foram estabelecidas por quase todos os estudiosos com esse critério. E, se as hierarquias aparecem tão contrastantes e disparatadas, deve-se somente ao desacordo que reina entre os filósofos em relação ao projeto-homem. Se aceitarmos o projeto nietzscheano, obtemos uma hierarquia que tem no ápice a vontade de poder. Se acolhermos o projeto marxista, o primeiro lugar na hierarquia de valores cabe ao trabalho. Se assumirmos um projeto freudiano, elaboramos uma hierarquia fundada sobre o primado do prazer [...] Um projeto-homem, para ser fiel a todos os dados de nossa experiência, leva em consideração também a experiência da transcendência e, portanto, no ápice da escala dos valores outro que não o próprio Deus. Ele, já digno da máxima estima, respeito e louvor por si mesmo, é também digno da máxima consideração em relação ao projeto-homem, porque só Ele é capaz de assegurar ao homem a atuação plena do próprio projeto de humanidade.”9
Eliseu aprendera que ninguém conseguirá ser um homem de Deus como Elias o foi, se não possuir valores morais e espirituais bem definidos.
A história de Elias e de seu sucessor Eliseu é instrutiva para a liderança espiritual. Nestes dias onde há uma crise de liderança, as vidas de Elias e Eliseu se erguem como um memorial para o qual devemos olhar. Aprendemos com Elias que os líderes são humanos e, portanto, suscetíveis a falhas. Aprendemos que existe a hora de ir, mas também a de voltar (1 Rs 19.15). Líderes também recuam! Aprendemos que além dos Elias, Deus também vê Eliseu. Aprendemos, pois, a história do reino é construída por homens que se dispõem em obedecê-lo.
Fonte:Tribuna Gospel
Notas:
1 CHAMPLIM, Norman Russel. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Rio de Janeiro: CPAD.
2 GONÇALVES, José. Rastros dc Fogo - o que diferencia o pentecostes bíblico do neopentecostalismo atual. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
3 GOTOM, Musa. In Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2010.
4 SWINDOLL, Charles. Elias — um homem de heroísmo e humildade. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2010.
5 SWINDOLL, Charles. Elias - um homem de heroísmo e humildade. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2010.
6 DILLARD, Raymond B. Fé em Face da Apostasia — o evangelho segundo Elias e Eliseu. Editora Cultura Cristã.
7 DILLARD, Raymond B. Fé em Face da Apostasia — o evangelho segundo Elias e Eliseu. Editora Cultura Cristã.
8 Veja uma exposição mais detalhada em meu livro: As Ovelhas Também Gemem. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
9 MONDIN, Battista. Os Valores Fundamentais. São Paulo: Edusc, 2005
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A Vinha de Nabote - Lição 7
Texto Áureo: Gl. 6.7 - Leitura Bíblica: I Rs. 21.1-5; 15,16
INTRODUÇÃO
A cobiça é um pecado destruidor, ela pode levar uma nação à ruína. Na aula de hoje estudaremos sobre a cobiça de Acabe e Jezabel. Mostraremos, a princípio, o significado bíblico-teológico da cobiça, em seguida, o exemplo de fidelidade de Nabote, e por fim, apresentaremos princípios para vencer a cobiça, especialmente nesses dias, marcados pelo consumismo.
1. A COBIÇA DE ACABE E JEZABEL
A palavra cobiça, no hebraico, é behtsah, geralmente traduzida por ganância, e no grego é pleonaxia, também vertida para o português como avareza. Essa é uma prática antiga, que remete ao Éden, quando Adão e Eva quiseram ser iguais a Deus (Gn. 3.4,5). Antes disso Satanás, tomado pela inveja, quis assumir o lugar do Altíssimo, perdendo sua posição celestial (Is. 14.12-14). Há vários exemplos no Antigo Testamento de pessoas que se perderam por causa da cobiça, o mais conhecido deles talvez seja o de Acã (Jz. 7.14, 18-26). A cobiça costuma estar relacionada à visão, por isso se trata de um pecado dos olhos (Js. 7.21). Por causa da cobiça o ser humano pode fazer males terríveis aos outros, enganar, furtar e até mesmo matar (Gn. 4.1-7). Alguns discípulos de Jesus se deixaram levar pela cobiça, não pelo dinheiro, mas por posição (Lc. 22.24). A pessoa cobiçosa nunca encontra satisfação, pois deseja sempre mais, não consegue estar contente (Ec. 6.7). Foi justamente isso que aconteceu com Acabe, que desejou a vinha de Nabote, cobiçando o que não lhe pertencia (I Rs. 21.2). O monarca israelita queria aquela herdade porque esta estava localizada próxima a sua residência (I Rs. 21.1). O rei estava dominado pelo desejo de possuir, demonstrando ausência de domínio próprio. Esse é um sentimento bastante comum entre aqueles que não encontram satisfação em Deus. Muitas pessoas entram em uma corrida desenfreada por dinheiro, fama e sucesso. Falta-lhes o Senhor na vida, por isso querem compensar essa ausência com coisas. O mandamento de Deus já proibia esse tipo de idolatria, a fim de que o ser humano não se deixasse levar pela cobiça (Ex. 20.17). Jezabel, a esposa do rei, alimentou a sua cobiça, e fez mais que isso, maquinou um plano para tirar a vida de Nabote (I Rs. 21.7-10). Para se apossar daquela vinha ela tramou a destruição da reputação e a morte daquele homem. Não mediu esforços nem as consequências, envolvendo até mesmo os nobres do reino. A ganância tem feito muitos males à política brasileira, muitos políticos agem como Acabe, fazem de tudo para se perpetuarem no poder. Todos os dias vidas são sacrificadas nas ruas, escolas e hospitais por causa da cobiça. Os direitos dos mais pobres são vituperados, enquanto isso uma minoria enriquece injustamente.
2. O EXEMPLO DE FIDELIDADE DE NABOTE
Nabote é um exemplo de fidelidade a Deus, é um homem que não abre mão dos seus princípios. De acordo com a Lei, a terra pertencia ao Senhor (Lv. 25.23), por isso o israelita estava ciente de que detinha apenas uma concessão para explorá-la. Se atentássemos para essa verdade seríamos mais respeitosos com o meio ambiente. Esse era motivo de a terra não poder ser vendida, pois se tratava de uma herança divina (Nm. 36.7). Com essa instrução Deus queria proteger o povo de Israel da cobiça, garantindo-lhe subsistência. Certo pensador disse que a propriedade privada iniciou quando a primeira pessoa cercou uma porção, afirmando lhe pertencer, tendo o crédito das demais. O princípio bíblico permanece, não há fundamento bíblico para grandes latifúndios. Boa parte da terra deste país se encontra nas mãos de pessoas que não a torna produtiva. O direito à propriedade privada é garantido pela Constituição, mas o governo também precisa investir em políticas públicas que assegurem o direito à subsistência. Uma reforma agrária já foi iniciada neste país, mas é preciso ir além, não apenas distribuir terras, mas também dar condições para cultivá-la. Nabote sabia o valor da terra, por isso não se desfez da sua herança (I Rs. 21.3). Ele foi fiel aos seus princípios, mesmo sendo vítima da tirania do governo de Acabe e Jezabel. Mas ninguém se engane, Deus julgará os malfeitores, incluindo os governantes corrutos (Is. 10.1,2), eles receberão a justa recompensa (Lv. 19.15,35) pela opressão aos pobres (Pv. 14.31).
3. VENCENDO O PODER DA COBIÇA
A cobiça se sustenta no amor ao mundo, e nas coisas que nele há e tem a ver com a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo. 2.15,16). Portanto, se trata de uma tentação que precisa ser vencida, pois a concupiscência, uma vez alimentada pela cobiça, gera a morte (Tg. 1.14,15). O sábio escritor foi contundente em relação à cobiça, tendo em vista que essa destrói a vida daquele que a tem (Pv. 1.19). O problema do cobiçoso é que ele não consegue estar contente (Sl. 62.10; Pv. 30.15). Até mesmo dentro das igrejas esse sentimento prevalece, pois há muitos que não conseguem agradecer a Deus pelo que são e pelo que têm (Jo. 10.12,13; At. 20.29). Esses são mercenários cruéis, homens maus, que dizem proteger as ovelhas, mas querem apenas auferir lucros através delas (II Pe. 2.3). A Palavra de Deus é diretamente contra a cobiça, aqueles que a cultivam estão desobedecendo ao Senhor (Lc. 12.13-21; Tg. 4.1.2). Ninguém pode servir a dois senhores, Deus e o dinheiro não podem ocupar a mesma posição (Mt. 6.24). O deus mercado precisa ser destronado, vidas humanas são mais importantes do que o dinheiro. De que adiante o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt. 16.26). Somente há uma saída bíblica para a cobiça, é o contentamento, distante do que apregoa os adeptos da teologia da ganância. O contentamento é a confiança no Deus que nos provê o necessário, o suficiente (Fp. 4.1,9; Hb. 13.5). A falta de confiança no Senhor gera insatisfação e ansiedade (Mt. 6.25-33). Mas o contentamento nada tem a ver com comodismo (Rm. 12.11; Ef. 4.28). O cristão precisa também ser diligente, trabalhar com honestidade (Pv. 10.4; 11.1; At. 20.33-35). A motivação para o trabalho não deve ser a cobiça, antes a manutenção do lar, e o exercício da generosidade (Ef. 2.10; I Tm. 6.17-19).
CONCLUSÃO
Para alimentar a sua cobiça, Acabe e Jezabel sacrificaram a vida de Nabote, um homem fiel a Deus e de princípios. De igual modo muitos tem sido injustamente tratados para satisfazer a ganância de poucos. Em meio a essa sociedade consumista, que se move à custa da ostentação, precisamos ser vozes proféticas. E tal como Elias, denunciar a injustiça e a maldade, sempre que o direito dos mais pobres for usurpado, alertando a todos a respeito do julgamento divino (I Rs. 21.19,20; At. 17.31).
Prof. José Roberto A. Barbosa
Lição 6 - A VIÚVA DE SAREPTA
Quando dá início ao seu ministério na Galileia, Jesus pregou em Nazaré, cidade onde fora criado. Foi nessa cidade onde proferiu um dos seus mais famosos sermões registrado em Lucas 4.16-26.
Nessa passagem bíblica, Jesus faz referência ao profeta Elias, à grande fome e à viúva de Sarepta de Sidom. O texto deixa claro que a viúva de Sarepta de Sidom fica em evidência nas palavras de Jesus. Ele disse claramente que havia “muitas viúvas em Israel no tempo de Elias” e não somente a viúva de Sarepta. O que faz a história dessa mulher ser diferente das demais? Por que ela foi abençoada e as outras não? Por que ela recebeu uma menção honrosa por parte do próprio Cristo?
A história da visita do profeta Elias à terra de Sarepta, onde foi acolhido por uma viúva pobre, é emblemática por algumas razões. Primeiramente a história revela o cuidado de Deus para com seus servos que se dispõem a fazer sua vontade. Não importa onde estejam, Deus cuida deles. Elias foi o agente de Deus para confrontar a apostasia no Reino do Norte. Esse fato fez com que o profeta não fosse mais aceito entre sua gente. Necessitava, pois, de um lugar seguro para se refugiar. Em segundo lugar, o episódio revela a soberania de Deus sobre as nações e que mesmo em se tratando de um povo pagão, Deus escolhe dentre uma de suas moradoras aquela que será o instrumento usado por Ele na construção de seu projeto. Quando o Senhor ordenou ao profeta se deslocar até Sarepta, Ele revelou qual era o propósito disso: “Ordenei a uma mulher viúva que te dê comida” (1 Rs 17.9). Elias precisava sair da região controlada por Acabe e isso, como vimos, ele fez quando se dirigiu para Sidom, na Fenícia. O texto é bem claro em se referir à viúva como sendo um instrumento que o Senhor iria usar para auxiliar Elias:
“ordenei a uma viúva”. Quem era essa viúva ninguém sabe, todavia foi a única escolhida pelo Senhor dentre várias para fazer cumprir seu projeto (Lc 4.25,26). Era uma gentia que, graças à soberania divina, contribuiu para a construção do projeto divino (1 Rs 17.8-16).
A fonte de Querite
Já vimos que tão logo tenha profetizado a vinda de uma grande seca sobre o reinado de Acabe, Elias recebeu orientação divina: “Retira-te daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto a torrente de Querite, fronteira ao Jordão” (1 Rs 17.3). Elias se tornara umapersona non grata no reinado de Acabe e, devido a esse fato, precisava sair de cena por um tempo. E seguindo a orientação divina que ele se refugia primeiramente próximo à fonte de Querite. Warren Wiersbe (2008, pp. 462,463) destaca que “Na torrente de Querite, Elias teve segurança e sustento. Até o dia em que secou, o ribeiro proveu água e, a cada manhã e tarde, os corvos levaram carne e pão ao profeta. Na lista mosaica de animais e de alimentos proibidos (Lv 11.13-15; Dt 14.14), o corvo era considerado “imundo” e, no entanto, Deus usou esses animais para ajudar a sustentar a vida de seu servo. Os corvos não levaram a Elias as carcaças que estavam acostumados a comer, pois esse tipo de comida seria imunda para um israelita devoto. O Senhor proveu a comida, e os pássaros forneceram o meio de transporte! Assim como Deus fez cair maná sobre o acampamento de Israel durante sua jornada pelo deserto, também enviou o alimento necessário a Elias enquanto o profeta aguardava um sinal para mudar-se de lá. Deus alimenta os animais e os corvos (SI 147.9; Lc 12.24) e os usou para levar comida a seu servo”.1
Querite, portanto, era um lugar de sombra e água fresca, mas Q.ue-rite não era o ponto final da jornada do profeta. Elias não poderia fixar-se naquele local porque Querite não era uma fonte permanente (1 Rs 17.7). Querite é uma provisão divina em tempos de crise! Quem faz de Querite seu ponto final terá problemas, porque Querite secará!
“Com a intensificação da seca, a torrente secou, deixando o profeta sem água; mas ele não tomou atitude alguma enquanto a Palavra de Deus não lhe veio para dizer o que fazer. Alguém disse bem que a vontade de Deus nunca nos conduz a um lugar em que Deus não pode nos proteger ou cuidar de nós, e Elias descobriu isso por experiência própria (ver Is 33.15,16).”2
Ainda em Querite, o profeta recebe o chamado de Deus para se deslocar para a Fenícia. Se já vimos em capítulos anteriores como a Escritura revela como age o Deus de Elias, aqui podemos observar como age o Elias de Deus.
Em primeiro lugar, Elias se dispôs — ‘Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida” (1 Rs 17.9). Disposição aqui pode ser entendida como sinônimo de atitude. De nada adianta recebermos um chamado divino se não tomarmos uma atitude com relação a mesma. Elias se dispôs e dessa forma criou condições para que o plano de Deus em sua vida se concretizasse. Não vale, portanto, somente as boas intenções, é preciso tomarmos uma atitude em relação ao desafio imposto. Esse fato é percebido na história do filho pródigo, conforme registrado no Evangelho de Lucas: “E, levantando-se, foi para seu pai” (Lc 15.20).
Em segundo lugar, ele soube esperar — “demora-te ali” (17.9). Alguns intérpretes falam que a estadia de Elias na casa da viúva levou cerca de dois anos, mas pode ter sido mais já que a seca durou três anos e meio. O certo mesmo é que Elias obedeceu a ordem divina sabendo esperar. Na nossa cultura fast food, estamos acostumados a querer as coisas rapidamente, mas no reino espiritual as coisas não andam dessa maneira. É preciso saber esperar. Foi Davi quem disse: “Esperei com paciência pela ajuda de Deus, o Senhor. Ele me escutou e ouviu o meu pedido de socorro” (SI 40.1).
Em terceiro lugar, Elias demonstrou humildade quando pedia a uma mulher, viúva, estrangeira e pobre que lhe desse alimento — “traze-me também um bocado de pão na tua mão” (1 Rs 17.11). Na cultura antiga as mulheres eram desvalorizadas. Não era, portanto, comum um homem se dirigir a uma mulher, muito menos se essa era estrangeira e pobre. Mas Elias seguia a direção divina e não teve dúvidas que aquela era a viúva a qual o Senhor se referira.
Em meu livro A Prosperidade à Luz da Bíblia, chamei a atenção para a relação existente entre humildade e prosperidade:
Fica bem claro na epístola aos filipenses que o segredo do contentamento de Paulo é resultado de sua dependência do Senhor. As suas carências levaram-no a abandonar o orgulho, que era marca de seu antigo viver, para com humildade buscar no Senhor suprir suas necessidades, tanto materiais com espirituais (2 Co 11.18-28).
Geralmente a prosperidade exibida hoje no meio evangélico exprime mais uma atitude de orgulho do que de humildade. O “tudo posso” passou a significar o desvendamento de um segredo que torna aquele que possui sua chave capaz de conquistar o que quiser. Possuir uma casa já não satisfaz, é necessário possuir uma mansão. Possuir um carro 1.0 pode ser um sinal de pobreza, é necessário, portanto, possuir um 4x4 off Road. Ser pastor de uma igreja pequena é um testemunho contra a prosperidade, portanto faz-se necessário pastorear uma grande catedral. Estamos na época dos pastores pop stars e das mega igrejas! Não se está afirmando aqui que possuir esses bens seja errado ou pecado, mas a atitude e o objetivo com que se possui pode estar.3
Em quarto lugar, Elias demonstrou fé e confiança quando se dirigiu pedindo ajuda à viúva de Sarepta (1 Rs 17.9). Pedir água em tempo de seca e alimento em um período onde imperava a fome é sem dúvida alguma uma clara demonstração de fé do profeta de Tisbe. Elias apenas sabia que o Senhor “havia ordenado a uma viúva” que lhe desse alimento, mas a forma como isso seria feito não lhe fora revelado. A fé no Deus da provisão estava operando na vida do profeta.
Em quinto lugar, Elias foi um profeta de ação — “Então, ele se levantou e se foi”(l Rs 17.10). Já falamos da atitude do profeta e, essa atitude é demonstrada de uma forma objetiva pela prática. Antonio Vieira disse que a “omissão é um pecado que se faz não fazendo”. Omissão é falta de ação! Todos nós somos desafiados todos os dias, mas as respostas dadas a esses desafios é que vão nos distinguir um dos outros. Alguns apenas contemplam, mas não tem coragem de encarar o desafio à sua frente. Com Elias foi diferente — o profeta de Tisbe esperou quando foi preciso esperar e agiu quando foi necessário agir.
A casa da viúva
A providência divina para com o profeta Elias se revelou naquilo que Paulo, o apóstolo, muito tempo depois lembrou — Deus usa as coisas fracas para envergonhar as fortes! (1 Cor 1. 27). Um gigante espiritual ajudado por uma frágil mulher! Uma mulher viúva e pobre. Muito pobre! Ficamos a pensar o que teria passado pela cabeça do profeta Elias quando o Senhor lhe disse que havia ordenado a uma mulher viúva que o sustentasse com alimentos. Era de se imaginar que essa mulher possuísse algum recurso. Como em toda a história de Elias, a provisão de Deus logo fica em evidência. A providência divina já havia se manifestado nos alimentos providenciados pelos corvos (1 Rs 17.4-6); agora se revelaria através de uma viúva pobre.
Elias se afasta de seu povo e de sua terra indo se refugiar em território fenício (1 Rs 17.9). A geografia bíblica nos informa que Sarepta era uma pequena localidade situada a poucos quilômetros de Sidom, terra da temida Jezabel (1 Rs 16.31).4 As vezes o Senhor faz coisas que parece não ter lógica nenhuma! No entanto, esse foi o único lugar no qual o rei Acabe jamais pensou em procurar o profeta: “Não houve nação nem reino aonde o meu senhor (Acabe) não mandasse homens a tua procura” (1 Rs 18.10). São nas coisas menos prováveis que Deus realiza seus desígnios! Sarepta parecia ser uma terra de ninguém, mas estava no roteiro de Deus para a efetivação do seu propósito.
A casa da viúva é o local onde os milagres acontecem. Milagres na Bíblia são comuns, mas não são naturais já que se tratam de fenômenos sobrenaturais. E é na casa da viúva de Sarepta que conhecemos a dinâmica de um milagre.
1. Primeiramente convém dizer que o milagre acontece a partir do que se tem — “Há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija” (1 Rs 17.12). Deus é poderoso para fazer o existente a partir do inexistente! Todavia o texto bíblico mostra que o normal é o Senhor abençoar-nos a partir do que dispomos! O que temos? Pode ser pouco, mas se Deus puser a sua bênção então fica muito. Já vi isso acontecer em igrejas, ministérios e em comércios que se encontravam raquíticos. Quando o Senhor foi invocado para fazer multiplicar, então houve uma multiplicação.
2. O milagre acontece quando Deus é colocado em primeiro lugar — “Elias lhe disse: Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho” (1 Rs 17.13). O profeta entrega à viúva de Sarepta a chave do milagre quando lhe diz: “primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho” (1 Rs 17.13). O profeta era um agente de Deus e atendê-lo primeiro significava pôr Deus em primeiro lugar. O texto sagrado afirma que “foi ela e fez segundo a palavra de Elias” (1 Rs 17.15). Tivesse ela dado ouvidos à sua razão e não obedecido às diretrizes do profeta com certeza teria perdido a bênção. O segredo, portanto, é colocar Deus em primeiro lugar (Mt 6.33). Deus é um Deus de primícias! Atender primeiramente ao profeta era pôr Deus em primeiro lugar. Não podemos inverter a ordem. Quando priorizamos primeiramente nossos projetos pessoais em vez de colocar Deus em primeiro lugar, então começam os problemas. Jesus afirmou que devemos colocar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, então teremos todas as coisas acrescentadas.
3. O milagre acontece quando obedecemos à Palavra de Deus —“Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a sua casa muitos dias” (1 Rs 17.15). A mulher que Deus havia levantado para alimentar Elias durante o período da seca disse não possuir nada ou quase nada: “nada tenho cozido; há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos” (1 Rs 17.12). De fato o que essa mulher possuía como provisão era algo humanamente insignificante! A propósito, o termo hebraico usado para punhado, dá a ideia de algo muito pouco! Era pouco, mas ela possuía! Deus queria operar o milagre a partir do que a viúva tinha. A suficiência divina se revela na escassez humana. O pouco com Deus se torna muito! Quando Elias desafiou aos profetas de Baal, ele afirmou que “segundo a Palavra de Deus estava fazendo aquelas coisas” (1 Rs 18.36). Da mesma forma a viúva agora fazia “segundo a palavra de Elias”, e a palavra de Elias aqui deve ser entendida como a Palavra de Deus, já que o profeta não falava dele mesmo. Esse é o segredo: agir de acordo com a Palavra de Deus. Ao assim fazermos, o milagre acontece!
O poder da oraçãoE. M. Bounds (1835-1913), autor de diversos livros sobre oração, escreveu:O que seria dos líderes de Deus sem a oração? Se fosse retirado o poder de Moisés na oração, precisamente o dom que o fez eminente diante dos pagãos, e se a coroa fosse retirada de sua cabeça, tanto o alimento, quanto o fogo de sua oração se acabariam. Elias, sem a oração, não teria lugar ou registro no legado divino, e sua vida teria sido insípida e covarde, sua energia, destemor e fogo teriam desaparecido. Sem a oração de Elias, o Jordão jamais teria dado espaço ao toque de seu manto (2 Rs 2.6-8). O argumento usado por Deus para acalmar os medos de Ananias e o convencer da condição e da sinceridade de Paulo (ver Atos 9.10-15) é o exemplo ideal da história de Paulo, a resposta para sua vida e obra pois, “o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso;pois ele está orando" (v. 11).
Paulo, Lutero, Wesley, o que seria destas pessoas escolhidas por Deus sem que fossem distinguidos e controlados pelo advento da oração? Estes eram líderes para Deus porque foram fortes na oração. Ao contrário, não foram líderes por causa de seu pensamento brilhante, ou por conta de seus recursos sem fim, sua cultura magnífica, ou seus dons naturais, mas sim eram líderes porque, mediante o poder da oração, eram capazes de direcionar o poder de Deus. E importante termos em mente que pessoas de oração significa muito mais que “pessoas com hábito de orar”, significa, pois, “pessoas nas quais a oração é força poderosa”, é a energia que move o céu e derrama tesouros incalculáveis de bondade na terra.5
A oração intercessória
O texto de 1 Reis 17.1 trás as palavras de Elias em uma profecia sobre a seca em Israel. A seca de fato aconteceu. Todavia o apóstolo Tiago destaca que essa predição profética de Elias foi acompanhada de oração: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra” (Tg 5.17). Foram palavras proféticas, mas uma profecia construída com oração. Talvez isso explique porque hoje há muitas profecias, mas poucos resultados. Não há oração. Novamente o profeta se encontra diante de um novo desafio e somente a oração provará a sua eficácia. O filho da viúva morreu e Elias toma as dores daquela pobre mulher pondo-se em seu lugar e clama ao Senhor (1 Rs 17.19,20). Deus ouviu e respondeu ao seu servo.
Em seu comentário bíblico, Matthew Henry (1999, pp.383,384) destaca que:
Elias não respondeu palavra à mulher, mas se dirigiu a Deus e expôs o caso, pois, não sabia que explicação dar-lhe a este triste acontecimento. Logo tomou o cadáver do menino dos braços da mulher e o levou ao seu próprio leito (v.19). Ali apelou ao Senhor com humildes razões (v.20) e lhe rogou que devolvesse a vida do menino (v.21). Este é o primeiro caso que encontramos na Bíblia de um morto voltar à vida; pelo que Elias debaixo do impulso do mesmo Deus, orou pela ressurreição desse menino (...) Posteriormente, em uma ocasião similar, Eliseu realizou o mesmo milagre estendendo-se duas vezes sobre o menino da Sunamita (2 Rs 4.34), e Paulo se estendeu somente uma vez no caso de Êutico (At 20.10). Deve-se observar a oração de Elias: ‘Rogo-te que tragas de volta a alma deste menino a ele' (V.21). Ainda que o hebraico nephesh significa também “vida” (e é também um sinônimo de pessoa — ver Gn 14.21), é sabido que na mentalidade judaica, a “alma” ficava três dias ao lado do cadáver (v. o comentário a João 11 — nota do tradutor); assim que estes lugares supõe a existência da alma em um estado de separação do corpo e consequentemente sua imortalidade.6
A oração perseverante
Elias orou, mas orou com insistência: “E estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao Senhor e disse: O Senhor, meu Deus, rogo que faças a alma desse menino tornar a entrar nele” (1 Rs 17.21). Elias se estendeu sobre o menino três vezes! Isso demonstra a natureza perseverante de sua oração. Muitos projetos não se concretizam, ficam pelo caminho, porque não são acompanhados de oração perseverante. O Senhor Jesus destacou a necessidade de sermos perseverantes quando narrou a parábola do juiz iníquo: “E ensinou-lhes uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc 18.1). É com perseverança que conseguiremos alcançar nossos objetivos.
Ao destacar a oração perseverante de Elias, o expositor bíblico Warren Wiersbe (2008, pp.464,465) comenta:
A resposta de Elias foi levar o menino para seu quarto no andar de cima da casa, talvez no terraço, e clamar ao Senhor pela vida da criança. O profeta não podia crer que o Senhor proveria alimento miraculosamente para os três e, depois, permitiria que o menino morresse. Não fazia sentido. Elias não se estendeu sobre o corpo morto do menino na esperança de transferir sua vida para a criança, pois sabia que somente Deus pode dar vida aos mortos. Sem dúvida, sua postura indicou uma identificação total com o menino e com sua necessidade, fato importante quando intercedemos por outros. Foi depois de Elias ter se estendido sobre a criança pela terceira vez que o Senhor ressuscitou, uma lembrança de que nosso Salvador ressuscitou no terceiro dia. Porque o Senhor vive, podemos tomar parte na sua vida ao crer nEle (ver 2 Rs 4.34 e At 20.10).
O resultado desse milagre foi a confissão pública da mulher de sua fé no Deus de Israel. Ela sabia, sem sombra de dúvida, que Elias era um verdadeiro servo de Deus, não apenas outro mestre religioso à procura de sustento. Também sabia que a Palavra que ele havia lhe ensinado era, de fato, a Palavra do verdadeiro Deus vivo. Durante o tempo em que ficou hospedado com a viúva e seu filho, Elias mostrou que Deus sustenta a vida (a farinha e o óleo não acabaram) e que Deus dá vida (o menino foi ressurreto).7
A soberania de Deus sobre a história e sobre os povos e o seu cuidado para com aquele que o teme se revelam de uma forma maravilhosa no episódio envolvendo o profeta Elias e a sua visita a Sarepta. Não há limites quando a soberania divina quer revelar a sua graça e tampouco há circunstância demasiadamente difícil que possa impedir o Senhor de revelar o seu poder provedor. Deus é Deus dentro e fora dos limites que os homens costumam conhecer!
E com acerto que Raymond B. Dillard conclui essa história:
Mais uma vez, foi levantada a questão do poder na terra natal de Baal, Sarepta — uma cidade entre as duas principais cidades dos mesmos fenícios que exportaram Jezabel e seu deus para Israel. O poder de Baal sobre a vida era no máximo indireto. Segundo os padrões climáticos da antiga Canaã, as chuvas vinham ou não vinham, e as pessoas sofriam o impacto nos ciclos graduais de abundância ou escassez. Mas, o que poderia Baal fazer frente à morte das pessoas, corações silenciosos, paradas respiratórias (1 Rs 17.1)? Até mesmo na mitologia Cananeia, o próprio Baal não conseguia escapar do submundo sem ajuda. O que poderia ele fazer pela vida do filho da viúva? Na realidade, Baal estava morto, do mesmo modo que as árvores que foram cortadas para fazer imagens dele. Era simplesmente produto da imaginação humana.
Extraído do livro:Porção Dobrada - José Gonçalves CPAD.
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